quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

José Fabrício das Neves (32)

Júlio Olímpia da Silva e José Alves Perão (José Felisberto).

José Felisberto, combatente (4)

Terceira e última parte da entrevista com José da Silva Perão (Juca Perão), filho de José Alves Perão (José Felisberto) e de Júlia Olímpia da Silva. A entrevista foi feita no dia 22 de julho de 2007 na localidade de Jacutinga (Coronel Vivida-PR), onde os Perão se refugiaram das perseguições. Presentes Vicente Telles (sobrinho de Juca e neto do velho Perão) e o repórter-fotográfico Marco Cezar. Dona Sebastiana Perão participou.


Seu pai trabalhava com o que?

Juca – Ele sempre... o pai contava que ele só fazia revolução mesmo... O véio meu pai adorava revolução, hôme! Adorava mesmo. Depois, no ano 40, deu uns pé de revolução aqui, pois vê que ele veio lá do Irani e veio se meter aqui... Ele gostava, gostava disso, mesmo...

E o que houve aqui, o senhor lembra?

Juca - Não, não lembro. Mas ele depois, quando ele parava num lugar, ele fazia roça, plantava, plantava o que os filhos iam comer. Quando ele tava escondido, ele tava fazendo roça. Roçando, tal, né? Ele ainda conta que quando tava escondido nesses matão, quando era no inverno em tempo de pinhão, ele juntava bastante pinhão de dia, reunia bastante lenha, de noite faziam fogo e assavam bastante pinhão e quando acontecia de matar uma caça, então ele comia a caça assada com pinhão, dois, três dias assim... É melhor que carona, né. [...]

Sebastiana - Ele contava os causos dele e eu ouvia, porque eu costurava...

Juca - ...o assunto era só aquilo, não tinha outro assunto. Era só a briga...

[...]

Juca – Mas sempre do lado do fraco sempre tem, como se diz, uma guia, que nem o véio Perão contava [...] Deus ajuda, o Divino ajuda, já no Irani o véio meu pai contava e eu não cheguei a conhecer, uma veinha que durou 120 anos e não conheceu a luz do sol, era cega, era ceguinha, então eles não iam bater o combate sem í fala com... preguntá [a ela] o que ia acontecer. De hoje a 10 dias, 15 dias, ela contava hoje. “Não dá pra í ou dá”.

Qual o nome dela?

Juca – Guilhermina. Ela durou 120 anos.

Telles [ouviu falar dela].

Antes de ir a algum combate consultava?

Juca – É, ia lá consultava, se dava pra í ou não dava. Se não dava daí ela dizia ‘não vão’. Aí [...] mais dois, três dias, ia lá, ‘hoje dá pra í’ iam lá e sempre [vinham] feliz.

Telles – Sempre dava certo, tio Juca?

Juca – Sempre dava certo.

[...]

Seu pai participou da revolução de 23 no Rio Grande, contra o Borges de Medeiros?

Juca - Dessa eu não ouvi falar, mas provavelmente...

Porque o José Fabrício...

Juca ... era, era. Então ele ajudou...

Telles – O Assis Brasil. O senhor nunca ouviu falar em Assis Brasil?

Juca – Não, não me lembro...

[...]

O que ele falava da morte do José Fabrício?

Juca – Ah, ele sentia barbaridade. Nossa! Pra eles foi um..., né. Um homem daquele não podia morrer, né. Ele sempre falava...

Seu pai falava do Marcelino Ruas?

Juca - Desse não ouvi falar.

Em quantos irmãos vocês eram?

Juca – Em 14 irmãos, viemo tudo pro Paraná, vieram todos, uns casados, vieram na companhia dele. Quem era casado veio com tudo, esposa, filhos... Que nem esse genro do meu pai que veio na frente e comprou os terrenos, o Alípio Cordeiro, veio com a família. [...] Era casado com uma irmã minha.

[...]

Sebastiana – Falava do João Maria... Tem foto. [Dona Sebastiana se retira em busca da foto].

O que o seu pai falava do monge do Irani?

Juca – Ele falava que ele também era dos tal que sabia o dia que dava pra ir o dia que não dava, sem ele mandar não ia nenhum. É o que o meu pai falava.

Mas ele era conhecido do pessoal do Irani?

Juca – Era conhecido, era. Então o pessoal do lado dele tinham ele como meio santo, santo de uma vez, e os outros chamavam o monge, o monge.

Foto: Marco Cezar

[Dona Sebastiana mostra o quadro com uma foto de São João Maria que tem em casa. Diz: “Chamavam o monge para ele. Esse pra mim é mais que um santo. É quem cuida as águas pra gente.”]

Juca – As fontes onde o João Maria pousava e benzia... então até hoje o pessoal... cura, faz chá pra remédio das águas.

Sebastiana – E como eu rezo, tenho uma fé que nossa! Rezo as mesmas orações que rezo pros outros [santos], Ave Maria, Pai Nosso. Esse aí onde ele pousava ele benzia um ôio d’água daí ficava que um dia vai secá as água mesmo, né. Eu tenho ali encima e mandei fechar lá o olho d’água e mandei benzer e punhei a foto encima do meu ôio lá. Mas fizeram uma [bobagem] lá, botaram errado. Paguei e colocaram deitado, ao invés de botar assim de pezinho... Ele era de pé, não era sentado”.


Juca Perão (Coronel Vivida, 14.12.2007)


Comentários

Dona Sebastiana é uma profunda devota de São João Maria. Numa segunda visita ao casal, eu e o repórter-cinematográfico Marco Nascimento gravamos em vídeo cerca de duas horas de entrevista com José da Silva Perão (Juca Perão) e outra hora e meia com dona Sebastiana, a Vó Bástia. O material está sendo editado e deve ser divulgado até meados de 2009.

Vó Bástia fez importantes revelações envolvendo a religiosidade de São João Maria. Ela tem na memória uma oração passada pela citada Guilhermina a seu sogro José Alves Perão (José Felisberto) e que não pode ser rezada em voz alta. Quando chegar o momento certo, ela vai escolher alguém que possa decorar a oração e dar continuidade à mesma.

Com Juca Perão aprofundamos o perfil de seu pai e a diáspora dos antigos combatentes do Irani e do Contestado, rumo ao Paraná, sobretudo a região Sudoeste. É importante destacar que na entrevista que acaba de ser reproduzida quase na íntegra, estava à procura de informações sobre o personagem principal de minhas pesquisas – José Fabrício das Neves. Só depois desse encontro com os Perão em Coronel Vivida-PR é que consegui localizar os descendentes diretos de José Fabrício em Pinhão-PR. Por isso, na segunda entrevista com Juca Perão e dona Sebastiana, pude me aprofundar na saga dos Perão. Mas esse é tema para o vídeo-documentário.

Juca Perão e Marco Nascimento (Coronel Vivida-PR, 15.12.2007).

8 comentários:

  1. Celso, em nome da família perão e castanha, agradeço a vc pela lembrança de nossa história, que permanece viva nas pessoas de vô juca e vó bastia, acima retratados.
    Eles são para nos um exemplo de luta e alegria, com a sua forma simples de viver e sentir a vida, o que vc pode compartilhar nos dias que esteve em nossa compania.
    Parabéns pelo seu trabalho, digno de todas as honras que vc vem recebendo e, certamente, deverá receber muito mais.
    um abraço de seu amigo Sonivaltair Castanha, neto dos avós juca e sebastiana.
    felicidades para vc e toda a sua família e sucesso em sua empreitada.

    ResponderExcluir
  2. Gostair de te parabenizar pelo seu trabalho tenho lido seu blog.
    e testemunhar quero:
    Nasci em Vacaria no rio grande so sul bem pertinho de tanatas batalhas fo contestado e migrei com meu pai Alfredo Tonol Paim para honorio serpa manguirinha. Era cunhado do Sr. Orozimbo Varasquin, que morava em coronel vivida, depois mudou para palmas.
    E sempre que nos delocavamos de Honorio para Coronel, a gente passava pela abundancia e pelo ajcutinga e por 20 anos passamos em frete a uma fazenda linda que tinha na beira da estrada com um lago acmia da estrada e uma casa do lado de baixo, era a fazenda dos Perão, do SEU JUCA PERÃO,que bom saber dessa pessoa e dessa familia, e da guerra do contestado e da figura de pessoas como Seu juca meu Pai Alfredo e tio Orozimbo, que fizeram luta e hitoria e familias formadas no berço. parabems Celso, os Perão, os castanha estão em minha memoria.
    Fernando Cesar Paim
    PS: hoje moro em Sapezal no mato grosso.

    ResponderExcluir
  3. I used to be recommended this website via my cousin.
    I'm no longer certain whether this publish is written by way of him as nobody else recognize such special approximately my problem. You're
    incredible! Thank you!

    Check out my site :: place to buy twitter

    ResponderExcluir
  4. I am sure this piece of writing has touched all the internet viewers, its really really pleasant paragraph on building up
    new website.

    my site - how to get more followers on twitter 2012

    ResponderExcluir
  5. Heya this is kinda of off topic but I was wondering if blogs
    use WYSIWYG editors or if you have to manually code with HTML.
    I'm starting a blog soon but have no coding expertise so I wanted to get guidance from someone with experience. Any help would be greatly appreciated!

    Also visit my blog post :: twitter

    ResponderExcluir
  6. Whats up this is somewhat of off topic but I was wanting to know
    if blogs use WYSIWYG editors or if you have to manually code
    with HTML. I'm starting a blog soon but have no coding skills so I wanted to get advice from someone with experience. Any help would be enormously appreciated!

    Here is my blog twitter followers free

    ResponderExcluir
  7. Oh my goodness! Incredible article dude! Thank you, However I am having issues with your
    RSS. I don't know why I am unable to subscribe to it. Is there anybody else having similar RSS issues? Anyone who knows the answer can you kindly respond? Thanks!!

    Feel free to surf to my webpage ... twitter

    ResponderExcluir
  8. Hello, yes this paragraph is actually good and I have learned lot of things from it
    about blogging. thanks.

    Review my homepage :: buy twitter

    ResponderExcluir