quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

José Fabrício das Neves (29)

José Felisberto, combatente

Imagens de Júlia Olímpia da Silva e José Alves Perão (José Felisberto),
destacado líder da resistência dos posseiros do Irani.
Acervos: Vicente Telles (foto) e José da Silva Perão (quadro).

José Alves Perão, conhecido por José Felisberto, filho mais velho de dona Maria Joana Perão, estava com 43 anos de idade em outubro de 1912. Com base nessas informações é possível deduzir que tenha nascido por volta de 1869, possivelmente na Argentina. Registros no Cartório do Irani indicam o sobrenome Perón, depois transformado em Perão. Também houve uma derivação para Perone.

São poucas as evidências de sua participação direta no entrevero. Sabemos que após o combate de 22 de outubro de 1912, acompanhado por um grupo de 25 homens, percorreu os caminhos e picadas das imediações do Banhado Grande, quando se deparou com os alferes Libindo Francisco Borges, 43 anos, e Joaquim Antônio de Moraes Sarmento, 30, ambos do Regimento de Segurança do Paraná que os havia atacado.

Os detalhes desse encontro foram relatados anteriormente, onde Perão evita a morte do alferes Libindo. Mesmo assim, no Relatório do Inquérito apresentado pelo comissário Nascimento Sobrinho, está dito: “Que José Alves Perão, conhecido por José Felisberto, é também outro cúmplice digno de nota, por haver tomado parte no recrutamento do pessoal do Irani, depois em combate, e, finalmente, por haver tentado matar os alferes Libindo e Sarmento, depois de gravemente feridos, quando haviam se refugiado na mata próximo e ali os encontrando e roubando-lhes a viva força dinheiro e objetos”. (Quinta conclusão. Relatório do Inquérito/Processo do Irani, fls 41, 64, 103).

A conclusão não corresponde com o que foi dito pelos depoentes, como vimos anteriormente. O relógio não foi levado por ele, mas por um Pedro. A nota de cem mil réis foi deixada com um comissário de polícia. O próprio Libindo, no depoimento também detalhado aqui, deixa claro que Perão o salvou de ser trucidado pelo grupo de caboclos. “Homem dessa natureza não se mata”, dissera Perão ao ver Libindo de espada em punho, ferido gravemente, esboçar uma reação diante dos apupos de “mata, mata!”. De qualquer modo, a versão policial é a que passou a valer e a Perão não restou outra alternativa que buscar um esconderijo.

Logo após o combate e o encontro na floresta com os dois oficiais do Regimento, José Felisberto (Perão) passara rapidamente em casa. Contou que ele e Desidério haviam participado do combate ao lado do monge. Por esse motivo, ia se esconder nos matos por uns tempos, junto com o irmão. Depois disso não apareceu mais em casa. A revelação foi feita por João Alves Perão, 20 anos, então residente no Sertãozinho de Irani, que permaneceu escondido no mato, com medo, até o dia 20 de novembro de 1912, quando foi chamado a depor. (Processo do Irani, fls 139-140)

Elizeu Perão (sentado), combatente do Irani,
ladeado por familiares. Acervo: Vicente Telles.


Os Perão em Coronel Vivida-PR

José da Silva Perão ou Juca Perão mora na localidade de Jacutinga, no interior do município de Coronel Vivida-PR, próximo a Pato Branco. É filho de José Alves Perão (José Felisberto) e de dona Júlia Olímpia da Silva. Juca nasceu no atual município de Mangueirinha-PR, no dia 29 de novembro de 1926, sendo casado com dona Sebastiana Vieira Perão, 78 anos, carinhosamente chamada pelos netos de Vó Bástia.

Ele e a família nos receberam de braços abertos no dia 22 de julho de 2007 – eu, o repórter-fotográfico Marco Cezar e Vicente Telles, sobrinho de Juca Perão. Assim que nos viu chegar se levantou da cadeira. Com o apoio de uma bengala veio em nossa direção, falando muito, gesticulando, tudo com muito bom humor. E gargalhadas. Já sabia previamente o motivo da visita e havia se preparado. Estava com tudo na ponta da língua.

Felisberto aparecia em casa a cada seis meses. Às vezes ficava fora mais de ano durante “as revoluções”, como na de 1930, ao lado de Getúlio.

“Não tirava o José Fabrício da boca”, recorda.

Morreu em 1962, com 93 de idade. Morreu de velho. O coração parou de bater. Era um “salvador do povo miúdo”, resume o filho. Sua esposa, Júlia Olímpia da Silva, morreu com 98 anos.

Vieram de Irani-SC com tropa de gado, porco, ovelha. Primeiro veio um cunhado, Alípio Cordeiro, que comprou as terras.

Quando as famílias chegaram, já existia a roça de fogo, erva-mate e pinheiro. O pinheiro bom era usado para fazer as casas e o pinheiro ruim nas cercas. Onde era floresta agora é pastagem. No começo era roça de milho e porco (mesmo sistema usado em Concórdia-SC e região).

Os porcos eram engordados na roça de milho e depois seguiam para Ponta Grossa-PR – levavam 60 dias de Coronel Vivida a Ponta Grossa. Primeiro ia o milho. Depois os tropeiros voltavam para apanhar os porcos.

Os que vieram de Irani para atuar na criação dos porcos se estabeleceram no atual município de Mangueirinha-PR, com uma pequena mangueira no meio das florestas. Depois sugiram outras.

Os Perão não perderam contato com os Fabrício das Neves. Thomaz Fabrício, residente na fazenda São Pedro (atual município de Coronel Domingos Soares-PR) comprava milho para vender em Palmas e na engorda dos porcos.

Esses e outros detalhes vão ser conferidos na próxima postagem, com os principais trechos da entrevista gravada com Juca Perão – irmão de Isabel, mãe de Vicente Telles.

Juca Perão (Coronel Vivida-PR, 14.12.2007)

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